A minha avó devia ser ministra das finanças

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Pode parecer parvo, mas é a mais pura das verdades. Das pessoas todas que conheci até hoje, a minha avó é aquela pessoa com o melhor perfil para chefiar as finanças de uma família, empresa ou país. Tenho a sorte de ainda ter outra avó, dois avôs e um bisavô. Aliado a isso, a minha avó é uma pessoa de confiança, afável, honesta e que cozinha muito bem.

Com uma carrada de irmãos e irmãs, a minha avó não era a mais velha. No entanto, era ela que tomava conta da família e das finanças da mesma. Outros familiares, que estavam ligados ao agregado familiar, também faziam parte das responsabilidades da Sra. minha avó. Como era das poucas pessoas que sabia ler e escrever, os serviços dela eram muito requisitados. Apesar de não ter passado da 4ª classe, é muito mais inteligente que muitos ministros que levaram Portugal ao belo abismo em que se encontra. Sozinha, conseguia pagar as contas da casa, alimentos para os animais na quinta onde trabalhavam os meus bisavós, comprar roupa, comida e tanta outra coisa. No fim, ainda arrecadava uns escudos para o que viesse no futuro. Anos mais tarde, depois de casar com o meu avô, o filme foi o mesmo. Amealharam, trabalharam de sol a sol e conseguiram criar filhos, netos e (há pouco tempo) bisnetos. Sinto-me um sortudo por ter em mim tais genes, e acredito que muito do que poupo e muitas decisões que tomo são pensadas e refletidas no que ela me ensinou. Passaram por dificuldades extremas, desde fome a não terem local para dormir, mas resistiram e hoje são pessoas felizes, nos limites do possível, claro. Nunca emigraram, não recebem uma reforma choruda de França e até se queixam do Passos Coelho (menos o meu avô, porque ele lhe aumentou em 9€ a reforma, UAU!), mas a gestão feita durante uma vida inteira, poupando durante as décadas em que as vacas gordas davam dinheiro, permite-lhes, hoje, conseguir viver de forma folgada, apesar da idade avançada. Não têm mais porque são humildes e assim querem continuar. Tento seguir-lhes os passos, também, nesse sentido. Um dos meus passatempos favoritos é falar de futebol com o meu avô e ouvi-los falar de histórias antigas, de como era a terrinha há uns anos, o que mudou e que a juventude está perdida. Uma das coisas que mais me entristece é ouvir do meu avô, de quando em vez, um melancólico: “Se calhar estávamos melhor com o Salazar”. Enfim…

Acredito que existam muitas avós assim pelo país, mas, infeliz ou felizmente, nunca se meteram na política. Sempre viveram de forma contida, ao contrário da burguesia e classe alta de Portugal, e foram felizes. A idade a tal não permite, mas penso que todas as pessoas que mexem com o meu dinheiro, e com o dos outros contribuintes, deviam ser obrigadas a tirar um curso de finanças à moda antiga… com a minha avó como formadora. Ponho as mãos no fogo em como teríamos os cofres cheios de dinheiro.

Jornalista Desportivo, ICote Content Manager & Communication Coordinator 

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