João Cabral – Engenheiro Industrial – Xangai
João Cabral tem 26 anos e é natural de Vila Nova de Gaia. Tirou o mestrado em Engenharia Industrial e, atualmente, trabalha na empresa ParexGroup, em Xangai, a maior cidade da China. Com 3 anos de experiência, já viveu, também, na Holanda. Aliado a isso, o João já visitou Espanha, França, Inglaterra, República Checa, Áustria, Eslováquia, Bélgica, Hong Kong e Macau. Para além de ser um compatriota nosso, no continente asiático, que esteve à conversa com o ICote, vai também colaborar com o projeto, ajudando com a sua experiência fora de portas.
Depois de teres estado tanto tempo fora do país, como surgiu a oportunidade de ir para Xangai?
Depois de uma primeira experiência na China (Guangzhou) que correu muito bem, ficou sempre um desejo de regressar. Como tal, esta nova aventura pela China, desta feita em Xangai não foi obra do acaso. Aliás, a experiência profissional anterior aliada a aprendizagem da língua foi fundamental para conseguir este novo trabalho.
Certamente que há muitas diferenças entre os continentes e ainda mais os países. Podes dizer-nos quais?
As diferenças entre os países (China e Portugal) são muitas e evidentes. Costumo descrever aos amigos e família, sempre que me perguntam como estão a correr as coisas, que a cada dia que abro a porta de casa para sair à rua há sempre alguma aventura. Língua, hábitos, clima e comida são totalmente diferentes.
Quais os maiores problemas que tiveste na adaptação?
Desde logo a língua, já que a percentagem da população chinesa que fala Inglês é muito baixa e como tal até a comunicação do dia-a-dia pode ser complicada. No entanto encarei esse problema como uma oportunidade para aprender uma língua nova. Outro dos problemas de adaptação deve-se ao excesso de população, afinal de contas só Xangai tem o dobro da população de Portugal inteiro. Por vezes parece não haver tempo para boas maneiras (encontrões constantes, não respeitarem o espaço pessoal). Por último a poluição, tornando o ar difícil de respirar e de haver períodos de largos dias em que não se consegue ver o céu.

“Língua, hábitos, clima e comida são totalmente diferentes”
Como é o custo de vida em Xangai? Por exemplo, casas e transportes?
Xangai é de longe a cidade mais cara da China, equiparando-se em termos de custo de vida às cidades Europeias. Existe no entanto duas realidades, a realidade dos locais, que conseguem levar uma vida não muito cara e a dos “expats” que para conseguirem ter a mesma qualidade de vida que têm nos seus países, tem que pagar muito mais pela vida em Xangai. Uma renda de aluguer de casa de padrões ocidental pode chegar facilmente aos 600 euros por mês por um T1 de 75m2. Para a grande maioria dos estrangeiros a solução passa por encontrar uma boa casa com mais divisórias com quem possam partilhar, fazendo o custo da renda baixar para os >350 euros. Já os transportes, ainda conseguem manter preços baratos ( por exemplo a viagem de autocarro custa cerca 25 cêntimos e metro a rondar entre os 15 cêntimos e os 90 cêntimos, já os táxis começam a 1,50 euros), telecomunicações e comida (dependendo dos restaurantes), são mais baratos que em Portugal.
A língua é um entrave à entrada de portugueses no mercado de trabalho ou o inglês, por exemplo, serve para encontrar emprego na China?
O conhecimento de Mandarim continua a ser fundamental, não faria sentido que assim não fosse, tendo em conta que o Mandarim é a língua mais falada no Mundo. Numa primeira fase os conhecimentos de Chinês eram necessários devido ao fraco nível da população a falar Inglês. Agora, em Xangai, apesar do nível de Inglês ser maior, o conhecimento de Mandarim continua a ser igualmente fundamental porque existem cada vez mais estrangeiros a estudarem chinês, o que faz com que a concorrência no mercado laboral aumente.

“Para a grande maioria dos estrangeiros a solução passa por encontrar uma boa casa com mais divisórias com quem possam partilhar”
Com cerca de 20 milhões de habitantes, certamente já tiveste alguma situação caricata em Xangai. Podes contar-nos algumas?
Aqui na China não é difícil de assistir ou mesmo fazer parte de algumas situações caricatas. Por exemplo uma vez estava no metro e, contrariamente ao normal, este estava vazio. Consegui um lugar sentado e quando reparo à minha frente está um senhor a fazer a barba com uma máquina de barbear como se nada fosse. Também, apesar de Xangai ser uma cidade com muitos estrangeiros, ainda há adultos e crianças a apontarem para mim e a chamarem-me “laowai” que é a expressão em chinês para dizer estrangeiro, ou então a abordarem-me para tirar uma foto comigo pelo simples facto de ser estrangeiro. A que está mais presente na memoria deu-se esta semana, quando vim a descobrir por um amigo, que tinha aparecido num artigo do jornal “China Daily” por ter participado num projecto de voluntariado aqui em Xangai.
Quais as principais diferenças do mercado laboral chinês e o português, por exemplo?
Primeiro, considero que os trabalhadores evitam ao máximo sair da sua zona de conforto. Também noto que dizem muitas vezes que conseguem realizar determinada tarefa quando, na realidade, eles já sabem que não irão conseguir. O sistema em si é muito mais hierarquizado existindo um grande poder por parte da chefia e um grande número de mão de obra.

“Apesar de Xangai ser uma cidade com muitos estrangeiros, ainda há adultos e crianças a apontarem para mim e a chamarem-me “laowai” que é a expressão em chinês para dizer estrangeiro”
Por onde passa o teu futuro a médio-longo prazo?
Uma viagem backpacking pelo sudeste asiático (já em 2015), concorrer a um MBA, domínio de outros idiomas, continuar a construir uma carreira internacional na área e criar uma família são os meus objectivos pessoais e profissionais. O(s) local(is) onde os irei realizar continua a ser uma incógnita.
Que conselhos deixas aos nossos compatriotas que querem ir para Xangai ou outro sítio no estrangeiro?
Existem sempre aspectos positivos e negativos na altura de decidir ir para o estrangeiro, quer seja Xangai ou um outro local qualquer. O fundamental é mesmo ser uma decisão devidamente informada e ponderada e que reúna o apoio da família e amigos. Apesar das saudades da família e amigos, comida, país, língua e de tudo mais, não estou nada arrependido de ter deixado o país no início de 2013. Conheci locais e pessoas incríveis que de outra maneira não teria conhecido e tem sido no estrangeiro que tenho alcançado todos os meus objectivos pessoais e profissionais. Tenho ainda a sorte de viver estas aventuras junto da minha namorada e temo-nos apoiado um ao outro.
A equipa do ICote quer agradecer a paciência e disponibilidade do João, desejando-lhe o melhor para a sua vida e para a sua carreira. Queremos, também, agradecer o facto de querer colaborar com o ICote.