Há uns dias ouvi uma história fantástica que é boa demais para não ser partilhada. Um tipo de empreendedorismo que nos mostra o quão fácil é conseguirmos algo na vida, basta pensar naquilo que nos faz falta ou que faz falta aos que nos rodeiam e fazê-lo da melhor forma possível, uma espécie de Self ‘Shark Tank’.
Um colega na empresa onde trabalho esteve há uns anos em Gurupi (sul do estado de Tocantins) de férias. Nada de novo até agora. O que é certo é que Gurupi, com cerca de 85 mil pessoas, é conhecida pela sua bipolaridade meteorológica. Ou seja, ele apanhou manhãs quentes, tardes amenas e fins de tarde com verdadeiras tempestades, mas com o índice UV no máximo – se forem ver as previsões meteorológicas agora, vão encontrar isso mesmo.
Então, numa das ruas com mais pessoas e negócios, a Avenida Goiás, ele viu um senhor todas as manhãs, durante os dias em que lá esteve, a vender guarda-chuvas, mesmo estando sol e de não haver qualquer sinal de que ia chover. Até estavam relativamente baratos, mas praticamente ninguém olhava para o senhor, muito menos compravam os guarda-chuvas.
Então, depois de almoço, na maioria das vezes, quando as pessoas voltavam para trabalhar, começava a tal chuva que ia ganhando vigor e alterando por completo a paisagem circundante. Foi aí que se viu o truque do negócio: as pessoas iam ter com o senhor e compravam os guarda-chuvas quase todos, era uma loucura. O melhor? Ele duplicava ou triplicava os preços e as pessoas não se importavam. Era um negócio extremamente rentável.
Inquieto, o meu colega aproximou-se dele e perguntou se o que aconteceu foi sorte ou se fazia daquilo vida. Ele respondeu, com um sorriso nos lábios e muitos reais na mão, que a idade lhe tinha trazido problemas de saúde, um deles era ter dores nos joelhos quando o corpo pressentia que ia ficar frio ou que chover (algo do qual o meu avô também padece, diga-se) e nesses dias ele ia vender os guarda-chuvas, comprando muitos para lhe saírem mais baratos. Como sabia que de manhã ninguém ia comprar, ele baixava o preço, mas quando havia mais procura ele aumentava-o, como dizem os bons livros dos negócios. A sua reforma era pequena, mas com este ‘esquema’ tinha acabado de pagar a casa e o casamento da filha, a pessoa que ele mais amava na vida. Já o fazia há alguns anos e as pessoas voltavam sempre, porque perdiam o guarda-chuva ou se esqueciam dele em casa. Inclusivamente, uma senhora um dia disse-lhe que era o sétimo que lhe comprara, tamanho o esquecimento e a falta de tempo para ver a meteorologia.
De aparência modesta, sorriso fácil e chapéu de palha na cabeça, ‘Seu’ Rogério, como é conhecido, arrumou a sua mini loja e voltou para casa.
Quantos de nós não poderíamos ser um ‘Seu’ Rogério, nesta que podia ser uma história da Disney com moral no fim? Utilizar algo tão simples para ganhar a vida, vida essa que lhe tentou fazer uma rasteira, mas que ‘Seu’ Rogério fintou e fez o ‘gol’. Eu acredito que todos nós sejamos empreendedores, aliás, somos um país de pessoas inteligentes e empreendedoras, mas muitos não querem arcar com os encargos e problemas que isso traz (como retrata o filme Her, com as pessoas a pagar para que alguém lhes escreva as cartas) ou o governo gosta de elevar o nível do jogo e estragar a vida a quem o faz.
No entanto, ouvir a história de ‘Seu’ Rogério dá um novo alento a pessoas que estão agora a lutar pelo seu futuro e faz-nos sorrir, acreditando em melhores dias.
Sorriam sempre… e não se esqueçam do vosso guarda-chuva!
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