Ana Flores – DVSMW – Londres

1234320_644116088954193_1350731572_nAna tem 26 anos e é natural da cidade do Porto. Atualmente, trabalha numa instituição que apoia pessoas com problemas de álcool. Dentro da entidade é “Domestic Violence and Substance Misuse Worker“, trabalhando diretamente com vítimas de violência doméstica que têm problemas ligados ao alcoolismo ou que vivem com um companheiro que tem problemas, também, ligados ao álcool. Formada em Psicologia na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto está a viver em Londres vai fazer em Agosto um ano. Antes disso nunca tinha vivido no estrangeiro, mas já tinha visitado o Reino Unido, Espanha e Itália.

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– Como surgiu a oportunidade de ir para Londres?

Trabalhar e morar fora do país era uma coisa que eu já planeava fazer há algum tempo, não só pela falta de oportunidades profissionais e dificuldades em torno da minha independência financeira, mas porque tinha a noção que morar fora de Portugal poderia ser uma experiência enriquecedora a vários níveis (profissional, intra e interpessoal, cultural).
Quando finalmente decidi que estava na altura de sair, passei por um processo de decisão em que não sabia muito bem para onde ir. Mas sempre tive curiosidade de viver em Londres e experimentar a vida fervilhante de uma cidade onde há coisas a acontecer todos os dias. Para além disso, sou fluente em Inglês, tinha cá alguns amigos já e sabia que as oportunidades de crescimento eram relativamente grandes, por isso comecei a procurar emprego.
Pouco mais de um mês depois comecei a receber convites para entrevistas de emprego, por isso vim a Londres no Verão passado exclusivamente para isso. Entretanto recebi algumas propostas e foi fácil escolher; em menos de um mês tive de me mudar para o Reino Unido e comecei logo a trabalhar.

– Quais as principais diferenças que notaste no início?

Apesar de me ter ficado pela Europa e de achar que isso atenua bastante o choque cultural, acho que por Londres ser uma cidade tão diversa acabas por notar bastantes diferenças.
O custo de vida é uma delas – as rendas são altíssimas (podes pagar £500 [n.i. 627,60€] por um quarto), as casas na sua maioria são velhas e pequenas e vês-te quase obrigado a partilhar para poderes pagar as despesas. Os transportes também são muito caros, o passe mensal para 2 zonas são £130 [n.i. 163,17€].
As pessoas no geral são muito atenciosas e educadas e fazem tudo para te sentires integrado, e no trabalho senti desde logo uma atitude diferente face ao trabalhador, senti-me muito mais valorizada, apostaram na minha formação contínua e deram-me imensas oportunidades de desenvolver projectos. Por falar em pessoas, uma das maiores diferenças é lidares com pessoas de todo o Mundo todos os dias!
Para além disso, é uma cidade que nunca dorme e de uma dimensão que eu não imaginava e que não se compara ao Porto; há sempre coisas a acontecer e há sempre um concerto, teatro, musical, espectáculo de dança, etc. onde quer que vá!

– Como está o mercado de trabalho no Reino Unido?

Na minha opinião ainda vai havendo oportunidades de trabalho; contudo, eles falam muito de como a recessão os tem afectado e sentem diferenças a nível de empregabilidade.
Acho que as pessoas por vezes têm uma ideia irrealista de que, por irem para fora, vão logo encontrar o trabalho perfeito e assim, mas nem sempre acontece. O meu namorado teve de trabalhar em cafés e outras coisas fora da área antes de conseguir emprego; demorou cerca de meio ano até conseguir um full-time. Proactividade e persistência são palavras-chave. E acho que é preciso ter muita coragem também.

– O facto de falares português ajuda a encontrar emprego?

Para ser sincera, acho que isso não foi tido em consideração. Acho que na área Social, na qual eu trabalho, é imprescindível seres fluente em Inglês, uma vez que tens de ter sessões individuais com utentes, ir a reuniões, escrever relatórios, etc.

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“Londres é o expoente da multiculturalidade e, como tal, acabas por conhecer pessoas de todo o Mundo”

– Como são as pessoas em Londres?

Como já referi, Londres é o expoente da multiculturalidade e, como tal, acabas por conhecer pessoas de todo o Mundo, e acho que isso é das coisas que mais me está a fazer crescer com esta experiência. Tenho amigos ingleses, portugueses, noruegueses, italianos, etc., e isso dá-te outra perspectiva do Mundo, dos outros e da tua própria identidade.
Quanto aos ingleses no geral e londrinos em particular, acho que não são nada aquele estereótipo do “frio e distante e polite”. São de facto muito educados, mas também são extremamente atenciosos e abertos a pessoas de fora. Adoram sair para beber uns copos depois do trabalho e fazem-no regularmente. Estão sempre a ler no metro e autocarro, o que eu acho fantástico! E todos têm um iPhone.

– Tens alguma história engraçada passada aí?

Hmmm, isto não é muito engraçado, mas toda a gente acha que somos espanhóis e inclusive já fui a cafés e restaurantes onde o staff comunica comigo em espanhol antes de me ouvir falar sequer!

– O custo de vida em relação aos salários aí praticados é alto ou nem por isso?

Como já referi, as rendas e os transportes são bastante caros. No geral, o custo de vida em Londres é elevado, como toda a gente quer vir para aqui tudo está inflaccionado. No entanto, com um salário de full-time consegues pagar as tuas contas e ainda ir jantar fora ou ver um espectáculo uma vez por outra, o que é óptimo e sabe sempre bem!
Depois acho que é uma questão de saberes gerir o teu dinheiro, isto é uma cidade que exalta e apela ao espírito consumista, por isso há que saber fazer um equilíbrio se quiseres poupar algum dinheiro.

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“Vale sempre a pena ir ver um espectáculo no West End”

– O que aconselhas a visitar no Reino Unido?

Tanta coisa!!! O centro de Londres é, claro está, uma concentração de turistas em qualquer estação do ano. Há parques, museus, marcos arquitectónicos. Depois vale sempre a pena ir ver um espectáculo no West End!
Para além disso, gosto muito de zonas mais calmas em Londres, tipo Greenwich. Ainda não visitei muito fora de Londres, mas estou a planear ir a Oxford, Cambridge e outras pequenas cidades no Verão. E quero ir à Cornualha, Escócia e País de Gales.

– Como é a comunidade portuguesa por aí?

Stockwell (situado no Sudoeste de Londres) era uma zona perigosa há 20 anos atrás, conotada com gangs e drogas, mas na altura os portugueses que vieram para cá não se podiam dar ao luxo de escolher, por isso fixaram-se lá. Rapidamente adquirimos uma reputação de trabalhadores eficientes, especialmente na área dos trabalhos domésticos. Com as poupanças acumuladas, começaram-se a abrir restaurantes e pequenos estabelecimentos de comércio. Isto foi encorajado pelas autoridades locais, satisfeitas por verem negócios respeitáveis a desafiarem a economia baseada no tráfico de drogas.
Londres tem então uma grande comunidade portuguesa, só Stockwell tem cerca de 24 mil portugueses, e esta comunidade tem tido um papel activo na transformação de certas zonas da cidade.
Eu moro perto de Stockwell, e embora de vez em quando frequente um ou outro cafezinho por lá, não me sinto parte integrante da comunidade portuguesa que lá vive, que me parece ainda muito semelhante à das vagas de emigração dos anos 60 (emigraram contrariados e por dificuldades económicas, muitos não gostam de cá estar e não aproveitam o que a cidade tem para oferecer). No entanto, tenho alguns amigos portugueses com quem convivo frequentemente e que já têm uma mentalidade totalmente diferente (emigração como coisa positiva, aproveitar a cidade, empreendedorismo, etc).

– O teu futuro passa por Londres?

Ainda não sei se o meu futuro passa por ficar em Londres ou não, para já só sei que enquanto eu e o meu namorado estivermos felizes por aqui é por aqui que vamos ficar. Ainda é tudo muito novo e ainda há muita coisa que quero fazer aqui, inclusive viajar pelo Reino Unido. Depois talvez faça uma grande viagem e regresse a casa daqui a uns anos, quem sabe!

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“Sem amigos e o meu namorado cá tudo seria muito mais difícil”

– Do que sentes mais saudades de Portugal?

Apesar de toda a experiência estar a ser muito positiva, acho que vais ter sempre saudades de casa. Tenho ido a Portugal e planeio fazê-lo no mínimo duas vezes por ano, porque há sempre as saudades da família e dos amigos.
Depois há as saudades de outras coisas pequeninas (mas que ganham toda outra dimensão quando estás longe de casa) – o mar, a comida, os meus livros nas prateleiras do meu quarto…
Acho que a saudade é uma coisa muito portuguesa, mas que é isso que sustenta os laços que criamos e parte do que somos.

– Quais os conselhos que deixas a quem queira ir para Inglaterra ou outro país?

Sejam persistentes e não desistam. Sejam proactivos, todo o processo parte de nós e é bastante trabalhoso. Informem-se bem antes de saírem do país e sejam realistas, vai haver sempre saudades e momentos difíceis, mas também pode ser uma experiência incrivelmente realizadora.
E é extremamente importante terem uma rede de suporte para onde forem viver, sem amigos e o meu namorado cá tudo seria muito mais difícil!

Entrevista conduzida por Jorge Correia

A equipa do ICote agradece a disponibilidade da Ana e deseja-lhe as maiores felicidades a nível pessoal e profissional.