Tiago Paixão tem 24 anos, é natural de Lisboa e trabalha como agente imobiliário no Qatar, no departamento de arrendamento. Trabalha desde os 16 anos na área comercial, como vendedor, e gosta de jogar futebol, Playstation, beber uns copos e de cinema. Gostava de visitar os Estados Unidos (pela diversidade populacional), conhecer a Austrália (que é um país evoluído e rico em beleza natural) e a África do Sul (onde quer ver a Cidade do Cabo e o tubarão branco, mas de longe…), assim como visitar alguns sítios na Europa de mochila às costas. No Qatar, adora o facto de pagar 20 cêntimos por cada litros de gasolina, mas o álcool só é vendido em alguns hotéis, onde a cerveja pode rondar os 9 euros. Existe, no entanto, uma loja para comprar bebidas e carne de porco – ambos produtos caros -, mas é preciso ter uma licença para lá entrar. O ICote esteve à conversa com o Tiago que nos contou a sua vida e nos mostrou o seu novo país.
– Como é que foste e porque é que escolheste o Qatar para viver/trabalhar?
Vim ao Qatar em abril de 2012, para umas férias de 15 dias. Tinha cá o meu pai a trabalhar (entretanto em junho deste ano foi embora para Portugal) e aproveitei para vir conhecer um novo país. Um dia resolvi tentar a minha sorte e perceber se conseguia ter algum feedback do mercado de trabalho aqui no Qatar. Imprimi o CV, pedi emprestados uns sapatos e um blazer ao meu pai, uma camisa a um amigo que já conhecia, que também cá estava, e lá fui eu.
Na primeira porta que bati, logo me ofereceram emprego, numa loja de senhora de multimarcas de Luxo (Marc Jacobs, Chanel, Balmain etc.) A empresa pertence a um grupo de renome aqui no Medio Oriente, ‘Salam International’. Eu tinha trabalho em Portugal, tinha toda a minha vida em Lisboa, o salário não era fenomenal, mas o desejo e a ambição por novos desafios foi maior. Voltei a Portugal, poucos meses depois voltei ao Qatar, e aí começou esta aventura…
Em dezembro de 2012 fui recrutado pela CEO de um outro grupo, ao qual pertence a minha atual empresa, Mirage Property Consultans. Esta senhora era minha cliente na loja e abordou-me para deixar o meu CV numa das suas empresas, por achar que o teria perfil para trabalhar no ramo imobiliário aqui no Qatar. A verdade é que estou nesta empresa desde janeiro e felizmente sou, no momento, o número 1, já fiz cerca de 300 mil Qatari Ryals (60 mil Euros) em arrendamentos. Eu acredito ser compensado por todo o sacrifício e trabalho!
– Como é que foi o dia da ida para um país tão longínquo?
Tendo cá o meu pai, a chegada foi mais fácil, já cá tinha estado para umas férias, já não era a primeira vez. Considero que a vinda para o Qatar foi relativamente fácil. O que me custou mais foi certamente despedir-me da minha família e dos meus amigos…
– O que é que te custou mais nos primeiros tempos?
Quando aterrei, estavam aproximadamente 47 graus, o calor foi difícil para mim. Após toda a excitação normal por uma nova aventura, a falta dos meus amigos foi difícil, o Qatar é um país difícil para se ter e para se fazer uma vida social ativa como em Portugal. Essa é uma dificuldade para todas as pessoas que chegam aqui.

Tiago vive desde 2012 em Doha
– É fácil arranjar trabalho? A língua dificulta a entrada no mercado laboral?
A língua predominante aqui no Qatar é o inglês, logo a seguir o árabe, há que ter em conta que, neste momento, o Qatar tem pouco mais de 2 milhões de pessoas, mas locais (Qataris) são 300 ou 400 mil, o resto é composto por nós, os “expats”. Há certos trabalhos que a língua árabe é um requisito, mas na sua grande maioria o inglês serve. Não é fácil arranjar trabalho como eu fiz, nem aconselho, a não ser que se tenha cá alguém. Considero que tive sorte em arranjar emprego tão rápido, como disse, o salário era “baixo”, mas eu acredito, como já referi, na compensação do sacrifício.
– Sendo um país multicultural e com um crescimento económico notório, como é que se faz a adaptação às diferenças laborais e culturais?
Penso que a maior dificuldade é mesmo a competição que há por ca, isto é um “mundo” diferente e temos de ter muita paciência devido às diferenças culturais, ter um espírito aberto para lidar com isso. É fundamental estar sempre de “olho aberto”, existem milhares de pessoas para a nossa posição, seja o trabalho que for. Profissionalismo, seriedade e rigor em Portugal, no Qatar ou qualquer parte do mundo facilita sempre tudo!

Apesar de ter encontrado trabalho de forma rápida, aconselha a ter-se cautela
– Tens alguma história ou situação caricata que nos possas contar?
Tenho imensas, nem sei qual contar, o Qatar é um país cheio de peripécias e situações insólitas, culpa da sua diversidade cultural. O trânsito cá é de loucos, nos últimos 9 meses já me bateram 3 vezes (felizmente nunca me foi atribuída a culpa) e duas foram no mês passado, maior parte dos condutores cá são indianos. Arranjei o carro e passado uma semana já me partiram a parte de trás do carro novamente, ninguém faz sinal “pisca”, nas rotundas a lei da prioridade não existe, os ‘Qataris’ andam por cima dos passeios, vale tudo, mas existem muitos radares de velocidade onde andar a mais de 80 ou 100 dependendo do sítio, a multa são 100 euros, e passar um vermelho são 1200 euros de multa…
– O que é que te faz mais falta das terras lusas no Qatar? De quanto em quanto tempo vens a Portugal?
Estou cá há um ano e dois meses, só fui a Portugal uma vez ainda, mas tenho a possibilidade de ir de 6 em 6 meses. Sinto muita falta da comida portuguesa, da carne de porco (a religião Islâmica considera a carne de porco impura, e por isso ser proibida, assim como o álcool), sinto falta de uma boa bica, do ambiente cosmopolita da minha cidade e rural da aldeia dos meus avós no Algarve. Sinto falta do nosso clima ameno, chuva, frio, calor, sol… Estando fora dá-se muito valor a estas pequenas coisas, como todos sabemos, a saudade é algo muito português.
– Como vês a situação, em termos gerais, de Portugal? Quais as áreas mais prósperas em termos de oportunidades no Qatar?
Em Portugal reconheço que a vida está muito complicada, está difícil e que existe um ambiente de negativismo terrível. A falta de perspetivas de futuro é algo assustador! Aqui no Qatar nada disto acontece, as perspetivas que existem é que amanhã será sempre melhor, estou no país mais rico do mundo, com uma economia sólida e forte, onde o futuro sorri para os ‘Qataris’ e para todos, ou quase todos, os estrangeiros residentes no Qatar.
Por cá, em todas as áreas existem oportunidades, o país está em constante evolução e crescimento, todos os dias aterram dezenas ou centenas de pessoas novas para trabalhar cá em todas as áreas.

“A saudade é algo muito português”
– Há algo no Qatar que se tornou essencial na tua vida? Que hábitos novos tiveste de aprender?
O Qatar mudou a minha vida em quase todos os aspetos. O desafio é enorme, as dificuldades de adaptação são muitas, mas sei que no nosso país, neste momento, é mais difícil de viver do que aqui.
Adoro fumar ‘shisha’ e faço-o com frequência, adoro beber um chá chamado Karak e faço-o todas as manhãs “religiosamente”, com os meus colegas de trabalho.
– Quais os conselhos que darias aos jovens, ou não-jovens, que queiram emigrar para o Qatar ou para outro local no mundo?
As dificuldades e os obstáculos para alguém que emigra para outro país são muitas, mas o mais fácil é desistir. A todas as pessoas que estejam a pensar em emigrar, desejo muita sorte, aconselho que não desistam à primeira dificuldade ou barreira que lhes apareça. Eu acredito que os obstáculos na nossa vida só existem para os ultrapassarmos, nada mais, é algo natural.
Entrevista conduzida por JORGE CORREIA
[alert-success] A EQUIPA DO ICOTE QUER DESEJAR TODAS AS FELICIDADES AO TIAGO NESTA SUA NOVA FASE, AGRADECENDO TODA A DISPONIBILIDADE, ATENÇÃO E BOA DISPOSIÇÃO DURANTE A ENTREVISTA [/alert-success]