Estes tempos de emigração em massa da população jovem portuguesa dão azo à criatividade da música nacional. E a emigração é um tema que, por tão actual, tem excelente recepção nas massas.
Nos últimos anos o tema da emigração e da recessão, em geral, têm sido um dos temas preferidos dos autores portugueses. Desde Pedro Abrunhosa a Diabo na Cruz, passando por Tiago Bettencourt.
O primeiro, com “Para os braços da minha mãe”, conta a história tantas vezes ouvida e ainda mais vezes contada do português que teve de emigrar e da solidão que sente no país para onde foi. Percebe-se que não é fácil tratar estes temas e é a chamar pela lágrima que Pedro Abrunhosa vai contando a história. Dentro do estilo do próprio, esta consegue ser um dos temas mais melancólicos do autor portuense.
Os Diabo na Cruz fizeram no seu álbum “Roque Popular” o retrato mais fidedigno que se pode fazer nestes casos. A emigração de classe baixa, as viagens de comboio, o copo de Beirão na estação de serviço ou a derradeira decisão de cá fica de que talvez em Angola a vida seja melhor. Sem cabeça, só coração. Sem saber, só imaginando.
Já Tiago Bettencourt aproveita a onda de indignação nacional e, referindo-se à emigração jovem, tenta um hino de revolta ao estilo dos anos 70. Sem comparação possível com Zeca Afonso, Sérgio Godinho ou José Mário Branco, obviamente. É apenas um grito de revolta que serve para alimentar a fome de mudança dos jovens, e não só.
Serve este pequeno texto para concluir que estes tempos austeros também servem de inspiração e motivação para as canções. Se as pessoas estão revoltadas, que se escrevam canções de revolta. Se as pessoas estão tristes, que se identifiquem com as tristezas das letras.
Afinal, a crise também vende.