Quando exportamos a Suzy

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Exportar e emigrar é bem diferente, sim, eu sei. Mas quando emigramos estamos também a exportar e quando exportamos fazemos com que o nosso “produto” emigre.

Este prelúdio serve para contextualizar o Festival da Canção deste ano, que vai levar até à Dinamarca a música “Eu Quero Ser Tua”, interpretada pela Suzy e escrita por Emanuel, ele mesmo, o criador da expressão “pimba”. Se, por um lado, sinto uma vergonha alheia pelo meu país ser representado por esta cantiga que mais não é do que onomatopeias ridículas, versos azeitados e uma conjugação de sons tão básicos que qualquer símio na posse de um pau sente que consegue fazer melhor, por outro lado, todo o conceito de Eurovisão me diverte: pegar numa canção de cada país da Europa e fazer uma competição entre elas é, de facto, uma excelente maneira de promover um país. Ou não. Se calhar não, nem nunca foi. Foi sempre só mais uma noite para a RTP ter mais uns décimos nas audiências. Sem uma pesquisa na internet, quem se lembra do vencedor do ano passado? O único acto memorável num Festival da Eurovisão recente foram os Lordi. Esses, sim, pensaram “Bom, qualidade musical é algo que este festival nunca viu, por isso temos de ganhar com as nossas máscaras demoníacas”. Parabéns a eles. E um abraço.

Gosto de ver o festival da Eurovisão como quem vê um desastre de viação. Um desastre de viação ou um filme daqueles sem graça do Adam Sandler. Rio da desgraça, e isso chega.

Também gosto do facto dos bons músicos de cada país, quase como dissidentes, se afastarem o máximo possível deste festival. Parece que o enxotam como um cavalo enxota as moscas. Quem o aproveita são as Suzy’s deste país. Uma canção, uma Eurovisão, uma medalha de participação e está bom. Para o ano há mais. Para o ano que ganhe a Bernardina para nos rirmos todos muito.

Este assunto para dizer que há melhores formas de exportar a música que fazemos em Portugal. O Festival da Eurovisão não é necessário para nada. Pode-se reformar, que já não faz falta (alguma vez fez?). Exporte-se qualidade, em vez da Suzy.

Estudante de jornalismo na Universidade Nova de Lisboa

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