Se é para falar em emigração, então que falemos.
Que Portugal é um país que cada vez mais exporta os melhores já ninguém duvida, mas quando os melhores se vão embora por pura necessidade atinge-se o limiar da exportação, até porque cá fazem falta.
Soube-se esta semana que Fernando Tordo, um dos maiores músicos, compositores e intérpretes que o nosso país viu nascer, se viu obrigado a emigrar para o Brasil aos 65 anos. Quando até estas pessoas que marcam gerações abandonam o país pela dificuldade com que actualmente vivem, algo vai mal.
Tordo, emblemático cantautor, compositor de temas como “Tourada”, “Lisboa Menina e Moça” ou “Cavalo à Solta”, disse “Não tenho que me reformar, porque tive a felicidade de ter uma profissão que vai por aí fora. Mas vou reformar-me – reformar-me deste país. Não me está a apetecer ficar aqui, de maneira nenhuma. Ainda tenho muita coisa para fazer, muita música para escrever, muita canção para cantar, muita gente para conhecer, por isso é muito provável que aproveite estes últimos anos da minha vida, porque não os quero consumir aqui”. É a revolta de um dos melhores, um grito do Ipiranga em sentido contrário: “Eu não quero, não aceito esta gente, não aceito o que estão a fazer ao meu país. Não votei neles e não estou para ser governado por este bando de incompetentes. O que é natural é que faça como foi aconselhado a muitos jovens, mas também podiam ter aconselhado a mim, que tenho 65 anos: ir embora. Tenho de ir para outro lado, mas sem drama nenhum. Passou a ser insultuoso, ao fim de 50 anos de carreira, ter de procurar trabalho desta maneira, ter de viver quase precariamente. Não, muito obrigado. Vou-me embora. Mas satisfeito!”.
Correndo o risco de me repetir: aos 65 anos de idade e com mais de 40 de carreira ser obrigado a prosseguir a carreira a 7 mil quilómetros de distância, é triste.
Era bom que voltássemos a exportar cortiça ou vinho do Porto por opção e não a exportar génios por obrigação.
Este Tordo voou, boa sorte e obrigado por tudo.