Eu sei que só vais ler este post porque tem a foto de um bebé giro e agora estás a perguntar-te o que tem um bebé a ver com CVs?
É muito simples.
Há uma forte probabilidade do teu CV ser como uma fralda suja: vem cheio de cocó e vai directo para o lixo.
A primeira vez que recrutei alguém foi quando abri uma empresa em 2009 e precisava de assistentes de loja. Os CVs que recebi não me impressionaram mas visto serem para um trabalho não qualificado, não liguei muito.
Um ano depois, quando voltei a estar numa posição de recrutar, era directora de marketing e as áreas eram bastante diferentes: eventos, comunicação, marketing, contabilidade. Dizer que os CVs não me impressionaram é um grande eufemismo.
As minhas reacções variavam entre:
- Aborrecimento – “alguém que me espete umas agulhas nos olhos para não ver mais CVs”
- Riso incontrolável seguido de um “oh Rui vem cá ver isto!” e mais gargalhadas em resposta às piadas do meu chefe
- Pena – “coitado, está desempregado há meses e assim nunca o vão entrevistar sequer”
- Redução de expectativas – “este safa-se… Fica de reserva”
- Conformismo – “ok, este até tem potencial, vamos considerar.”
O resultado? Centenas de CVs directamente para o lixo.
Eram posições junior, sim. Mas os candidatos eram licenciados, mestrados e com alguns anos de experiência. Não consigo perceber como é que em plena Era da Informação e com tanta gente desempregada, ainda há quem não perceba que o CV é a primeira ferramenta para nos vendermos como profissionais. Como é que é possível não darem a mínima atenção à construção do CV? Não há desculpa! É só fazer uma pesquisa no Google e encontram mil artigos sobre o assunto.
Quem quer contratar um preguiçoso que se não esforçou minimamente para fazer um bom CV?
O exemplo que dei foi de uma PME, que por norma não atrai o melhor talento mas já recrutei para uma multi-nacional, em crescimento, que é um Great Place to Work e é a mesma coisa. Aqui no Dubai já fiz CVs profissionais para clientes senior, com anos de carreira e não muda grande coisa. Os problemas são outros, mas o nível é o mesmo: cocó (full of shit).
80% dos CVs são descartados em menos de 20 segundos. Se isto não é razão para se investir em comprar um CV feito por um profissional, não sei o que será. (Sim, essa profissão existe, eu mesma o faço). No mínimo, devia ser para te dedicares a sério a melhorá-lo.
Vou dedicar uns quantos posts a alguns passos simples que melhoram a qualidade de um CV, mas para já ficam aqui os erros mais comuns que transformam a maioria dos CVs em fraldas sujas.
#1. Usar o Modelo de CV Europeu
A besta que inventou o Europass merece o prémio de maior vigarista do ano por ter enganado quase tanta gente como o Governo Português. Podia escrever um artigo inteiro só a dissecar as mil e uma razões pelas quais o Europass é o pior modelo possível mas bastam três.
O objectivo de um CV é diferenciar-te da concorrência, destacando as tuas qualidades únicas que te tornam o melhor candidato. O Europass retira-te todo e qualquer elemento de diferenciação porque o teu CV é igual ao de toda a gente. Acredita, depois de ver 10, já não distingo uns dos outros. Transforma-te num produto fabril, num trabalhador operário.
A própria estrutura do Europass revela que é um CV para encher chouriço, cheio de informação desnecessária e que só ofusca o que realmente importa e te poderia fazer conseguir a entrevista. Não admira que receba CVs com 4 páginas quando o candidato só teve um emprego.
No que toca ao CV não existe uma solução “one fits all”. Cada caso é um caso e o modelo cronológico pode não ser o mais adequado. Além disso, o Europass é centrado em funções/responsabilidades quando os melhores CVs são focados em resultados/accomplishments. O que é que interessa descreveres o teu cargo anterior? Dares informação que o recrutador já sabe é irrelevante e não te acrescenta valor.
#2. Não ter um “sumário executivo” ou “objectivo” profissional
A maior parte dos CVs que me chegou, cortesia do modelo europeu, começava com um objectivo do género: “conseguir um estágio em marketing/eventos/comunicação. Se te estás a candidatar a uma vaga nesta área, é óbvio que conseguir o estágio é o teu objectivo, certo?
A primeira parte do CV deve ter um pequeno perfil teu, como o que se encontra no LinkedIn. Deve descrever quem és (porque és diferente), o que fizeste até aqui (pontos de destaque) e para onde vais. O objectivo é quem lê perceber se encaixas no perfil procurado, ainda antes de ir verificar a tua experiência.
#3. Colocar informação irrelevante no cabeçalho
O topo do CV é a primeira coisa que é vista. Se quiseres desperdiçar esse espaço com a tua data de nascimento, morada completa, número da carta de condução, do cartão de cidadão e da segurança social, é contigo. Mas se quiseres conseguir o emprego, limita-te ao teu nome, cidade, contacto (telefone e email) e eventualmente link para site pessoal ou perfil de Linkedin.
Dessa forma podes ocupar o topo com o teu perfil profissional, que é o que interessa.
#4. Escrever na primeira pessoa
O CV não é uma carta e todo o espaço é precioso. Utiliza uma linguagem simples, profissional e na terceira pessoa, mas sem pronomes pessoais. Escrever na primeira pessoa é a principal característica de um CV amador.
#5. Alongar demais o CV
Visto que os CVs são descartados em menos de um minuto e o que está na segunda página não recebe tanta atenção do recrutador, este é um dos piores erros que se pode cometer. Não vale a pena estar a colocar informação numa terceira página se esta não vai ser lida.
Não tens que dizer TUDO o que já fizeste no CV. O objectivo é despertar interesse para desenvolver a conversa em entrevista. Se tens pouca experiência, uma página é mais que suficiente.
Estes são os erros mais comuns, referidos por empresas internacionais especialistas na área, à excepção do primeiro que fui eu que acrescentei por ser especificamente português.
São erros gerais. Há outros que são comuns entre jovens profissionais, como por exemplo:
- Erros ortográficos
- Usar corzinhas, floreados e tipos de letra de leitura difícil
- Listar a educação até ao ensino básico (sim, é comum!)
- Utilizar o modelo cronológico a começar pelo cargo/grau académico mais antigo
- Listar todas as cadeiras que tiveram na faculdade (who cares?)
- Fazer acompanhar o CV de uma carta de apresentação “chapa 5″ – template sacado da net e linguagem formatada.
Olhando para o teu CV, consegues rever-te na lista? Se sim, posso ajudar: info@rutesilvabrito.com.
Ao eliminar estes erros estás a melhorar consideravelmente o teu CV, mas é apenas o primeiro passo para um documento que reflecte as tuas mais-valias e garante entrevistas.
Rute Silva Brito
Marketing Strategist, Writer & Entrepreneur
Também escreve em rutesilvabrito.com