Estágios e mais estágios…

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Se disser ao meu avô o que é um estágio ele é ‘homenzinho’ de me mandar passear. Os tempos mudam, temos que mudar com eles. Na altura dos nossos pais, e dos seus próprios pais, na sua maioria, havia algo chamado emprego para a vida. Atualmente, é algo de doidos pensar em entrar numa empresa e julgar que vamos ficar lá até à idade da reforma.

Se procurarmos um pouco nos principais sites de emprego em Portugal, iremos encontrar muitas oportunidades que são estágios. Sejam eles curriculares, profissionais ou outros, hoje em dia, é muito difícil – mas não impossível, claro – alguém transitar do mundo académico para o mundo de trabalho sem passar por um estágio antes.

Até que ponto um estágio pode ser benéfico?

Os estágios têm um papel preponderante na escolha da nossa carreira. É no estágio que podemos errar, é no estágio que podemos aprender e ser curiosos – apesar de muito boa gente não perceber que o estagiário tem direito a errar e a perguntar -, é a nossa hipótese de sermos uma mais-valia e mostrarmos as nossas competências, uma espécie de tryouts. Tudo conta: todos os minutos, horas, projetos e pormenores. Assim sendo, o estágio é uma faca de dois gumes: se por um lado podemos mostrar tudo o que valemos, por outro, caso não seja a área/empresa que estávamos à espera, podemos sair e tentar novas oportunidades noutra área/empresa.

Vale a pena a especialização?

Sempre fui apologista do ensino americano, em contraste com o português. Por quê? Simples, a especialização. Enquanto lá os estudantes têm liberdade de escolher quais as capacidades e competências que querem desenvolver e melhorar, em Portugal estamos presos a cursos pré-formatados, muitos deles já fora dos contextos do mercado atual, nos quais temos que seguir o mesmo caminho over and over again. Depois existem os problemas normais: tiram-se cursos porque os amigos também vão, desiste-se ao segundo ou terceiro ano, acaba-se e vai-se com o canudo na mão e pouco mais. Quem faz isso está, com certeza, condenado ao fracasso profissional. Daí ter que existir a liberdade académica, poder experimentar cadeiras de outros cursos que contem para a avaliação do nosso, conhecer novas pessoas, arranjar contactos (networking), amizades e, quem sabe, saídas profissionais. Até ao 11º ano quis ser advogado. Ainda bem que mudei de ideias, não desfazendo de quem está na área, porque hoje estaria nas ruas da amargura, com um curso tirado para nada. Fica a pergunta: será que um jovem com 18 anos, que há poucos meses não tinha idade para conduzir, beber e ter responsabilidades, deve escolher seis opções que irão marcar o seu futuro e da sua família nos anos que se seguem?

Quanto custa ser estagiário?

Muita gente associa ser estagiário a tirar cafés, tratar de arquivos e fazer o que ninguém quer fazer (se for da área da restauração, escriturário ou apaixonado por áreas diferentes, não é mau). Pelo contrário. Tudo isso faz parte da aprendizagem. As conversas, informações, histórias e conselhos que se leva como estagiário podem mudar-nos a vida – e não, não estou a hiperbolizar. Tendo feito todo o tipo de estágios, o problema de ser estagiário, neste caso não assalariado, são os custos inerentes. Muitas vezes temos que nos deslocar da nossa área de residência ou estudos. Mas, para tal, é preciso tirar umas horas e aí entra a idiossincrasia de cada um. Se vamos para Lisboa ou Porto gastar 250€ por mês numa casa, mais comida e transportes, mais isto e aquilo, durante 3 meses, por exemplo, é preciso ter algum fundo de maneio para aguentar. Aí entram os ‘ses’. Ou trabalhámos no verão – cheguei a ir apanhar pedra para Espanha para pagar uma viagem -, fins de semana ou nuns biscates para guardar dinheiro para estes momentos. Ou então pedimos ajuda a pais/avós/irmãos/padrinhos ou a amigos próximos. Vale a pena fazer isso? Depende de vocês. É um risco? É! Neste caso, não me posso pronunciar: “cada cabeça, sua sentença”. Se houver alguém conhecido no local que nos possa orientar no início, torna tudo mais fácil. Aí entra a questão e a importância do networking, acima referido.

Veredito final:

Sim, vale a pena ser estagiário. Roma não se ergueu em dois dias, nem nós devemos apressar as coisas. Não podemos mandar sem sabermos primeiro ‘ser mandados’. Todos os profissionais devem passar pela fase do stress, do cansaço, do sorriso aquando de uma palmada nas costas dada por um colega de trabalho por algo bem feito da nossa parte, das invejas, dos olhares, do medo, do frio no estômago, das conquistas e dos erros. Só assim vamos crescer e palmilhar a nossa carreira da melhor maneira possível até chegar ao auge e sermos aquilo que sempre sonhámos ser.

Jornalista Desportivo
ICote Content Manager & Communication Coordinator 

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Author: admin

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