O (des)equilíbrio

Marta-2015

Há aqueles dias em que é preciso trabalhar muito, muito mesmo, com urgência atrás de urgência.

Nesses dias, é imensamente custoso ouvir um telefonema das filhos, que perguntam repetidamente “Vens para casa jantar mãe?” ou ” Não vás trabalhar hoje outra vez!”. É difícil. Apetece largar tudo e correr para casa.

Apetece passar o tempo inteiro com eles, voltar ao tempo em que mães eram só mães, que tinham tempo para os filhos, para levá-los à escola, para os trazer a casa para almoçarem, para lhes ensinar as coisas do dia-a-dia, como cozinhar, pintar ou costurar. Para ler um livro com tempo, daqueles com 500 páginas. Coisas que nesta vida moderna nos passam ao lado.

Nestes últimos anos, nós mulheres, lutámos e continuamos a lutar pelo nosso lugar nesta sociedade de trabalho – e eu adoro o meu trabalho. Lutas difíceis que nos deram acesso a importantes conquistas, a direitos fundamentais na sociedade.

Mas temos de ser mulheres-trabalhadoras e mães, que equivale a acumular funções sem que os dias tenham aumentado. Acabamos por ter mil-e-uma coisas para fazer ao mesmo tempo e damos o nosso melhor, mas há algumas que vão necessariamente ficando para trás – se quero ser uma cirurgiã de topo, é muito provável que tenha de passar dias no hospital a operar, e será difícil ser a dona de casa perfeita, que tem a casa a brilhar e o jantar sempre pronto a horas, ou a mãe ideal, que vai buscar os filhos cedo à escolar, os leva ao parque a brincar, tem tempo para ajudar a fazer os trabalhos e lhes conta histórias ao deitar.

Fico com o coração apertado durante o telefonema, explico porque é que a mãe está a trabalhar e mentalizo-me que estou a fazer uma coisa boa, que foi aquilo que quis, que no dia seguinte os vou compensar.

Mas é um equilíbrio extremamente difícil, este de ser mãe e ter uma profissão exigente. E há mesmo dias em que só me apetecia ser uma mãe como antigamente.

Autora do blog Café, Canela & Chocolate | Facebook

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Author: admin

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