Quando a história se repete

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Há alguns anos atrás, começaram a chegar ao nosso país muitos ucranianos, romenos, moldavos. Gente de leste, com cabelos loiros e olhos claros, para trabalhar essencialmente na construção e nas limpezas. Pessoas com diferenciação, educação. Que tinham saído do país deles para virem para um lugar estranho, fazer uma tarefa para a qual tinham demasiada diferenciação. E isto fazia-me muita confusão – então porque é que o meu colega médico especialista em Ginecologia e Obstetrícia vinha para Portugal carregar baldes de cimento numa obra, ou porque é que a professora de história acabava a fazer limpezas das casas daquele bairro chique e até cobrava menos que as empregadas portuguesas? Será que nós portugueses, aceitaríamos isto – trabalhar num sítio estranho, com uma licenciatura na mala, numa tarefa para a qual nunca precisaríamos dela?

worldE o mundo é este lugar estranho e surpreendente, e a vida dá muitas voltas.

Por isso, vemo-nos neste novo milénio, num ano em que nos parecia em crianças absurdamente distante, num país da Troika, a ter de sucumbir exactamente ao mesmo destino que os nossos amigos de leste: quando antes eram eles a vir, agora somos nós a sair.

Porque este país já não é para novos, muito menos para licenciados. Investimos nesta nossa geração, somos os que temos a melhor formação de sempre – e agora vamos ficando sem emprego. As empresas vão fechando, os funcionários públicos são reduzidos e despedidos, a saúde e a educação degradam-se e falta material em todas as áreas, tudo a bem do défice e da felicidade dos senhores da Tróika.

Agora somos nós, portugueses, médicos ou professores, engenheiros, advogados e enfermeiros, a geração mais qualificada de sempre, a sair e procurar uma perspectiva de vida melhor por esse mundo fora. Alguns têm a sorte de conseguir trabalho na sua área e de poder continuar a fazer aquilo que gostam e para o qual se prepararam e o seu país investiu. Outros têm de mudar de rumo e não hesitam em fazer o que é preciso para dar uma vida melhor à família – e por isso tenho muito orgulho  da professora que há 3 anos não era colocada e que decidiu ir para a Bélgica fazer limpezas, ou do engenheiro que é repositor num hipermercado em Paris. E sim, conseguimos. Gostam de nós, somos bons no que fazemos. Vamos conseguir lá chegar. Aos nossos sonhos.

Somos portugueses.

Temos esta garra na alma. Fazemos o que é preciso. E onde vamos, conquistamos o mundo.

*autora do blog Café, Canela & Chocolate

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Author: admin

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